Visita do presidente do Brasil à Arábia Saudita mostra desejo de laços mais fortes

  • Luiz Inácio Lula da Silva visitou Riad esta semana com delegação de ministros e empresários
  • ‘O Brasil tem uma grande oportunidade de desempenhar o papel de parceiro estratégico da Arábia Saudita’, diz chefe da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira

SÃO PAULO: A visita do presidente do Brasil a Riad, nos dias 28 e 29 de novembro, com uma delegação de ministros e empresários, mostrou que ele quer estreitar os laços com a Arábia Saudita e conta com sua participação em projetos, especialmente aqueles que envolvem energia verde.

Após evento que reuniu autoridades e empresários brasileiros e sauditas na quarta-feira, Luiz Inácio Lula da Silva convidou o Reino para ser “parceiro do Brasil” na transição energética que vem ocorrendo no país sul-americano.

“Se a Arábia Saudita for o país mais importante na produção de petróleo e gás, daqui a 10 anos o Brasil será chamado de ‘a Arábia Saudita da energia verde’”, disse Lula em seu discurso.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, apresentou no mesmo encontro um panorama dos empreendimentos energéticos do Brasil e das iniciativas nas quais os investidores sauditas podem participar.

No dia anterior, reuniu-se com o ministro da Energia saudita, Abdulaziz bin Salman, e assinou um memorando de entendimento que visa melhorar a cooperação entre as duas nações.

O memorando de entendimento abrange projetos em vários domínios, incluindo petróleo e gás, eletricidade, eficiência energética, petroquímica, hidrogénio, energias renováveis e economia circular do carbono. O acordo também prevê parcerias acadêmicas para pesquisas conjuntas envolvendo energia.

“Estamos na Arábia Saudita demonstrando a liderança brasileira na transição energética e buscando ampliar ainda mais nosso relacionamento com o país”, disse Silveira, acrescentando que um dos objetivos da visita foi atrair investidores.

O governo saudita já havia anunciado em 2019, durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, um plano para investir US$ 10 bilhões do seu fundo soberano em projetos brasileiros. Espera-se que muitos deles estejam relacionados com energia e infraestrutura verdes.

“O Brasil tem grande potencial de crescimento em todos os segmentos de energias renováveis. A energia solar, a eólica e a energia de biomassa já representam uma parte significativa da produção total de energia brasileira, mas podem atingir um nível muito mais alto”, José Roberto Simões Moreira, professor de engenharia que coordena o programa de energia renovável da Universidade de São Paulo, disse ao Arab News.

Em 2022, quase metade da energia brasileira veio de fontes renováveis. As energias solar e eólica foram responsáveis por 90% da expansão da produção de energia em 2023.

“Essas fontes de energia foram responsáveis por manter o sistema seguro e funcional. Estamos operando perto do limite. Sem a expansão das energias renováveis, os brasileiros teriam problemas”, disse Simões Moreira.

Principalmente no Nordeste do país, onde a maioria das usinas solares e eólicas foram implantadas nos últimos anos, ainda há espaço para novos projetos em terra. Muitos empresários já desenvolveram planos para usinas eólicas offshore.

“São mais caros e apresentam desafios adicionais de implementação, mas na Europa têm sido numerosos. No Brasil, isso é apenas o começo”, disse Simões Moreira.

Aprimorar o sistema energético brasileiro também requer a expansão de sua infraestrutura de distribuição de energia.

O maior mercado consumidor fica no Sudeste, que fica longe das unidades de energia do Nordeste, disse Simões Moreira.

“É preciso investir também na ampliação das linhas de transmissão. Os atuais estão em vias de pleno funcionamento”, acrescentou.

Osmar Chohfi, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, disse que um dos setores em que muitos projetos conjuntos podem ser realizados pela Arábia Saudita e pelo Brasil é o do hidrogênio verde.

“O Brasil tem uma grande oportunidade de desempenhar o papel de parceiro estratégico da Arábia Saudita. Mas para que isso aconteça é necessário apresentar projetos bem concebidos, liderados por empresas com governança de alta qualidade e com um sistema de regulação seguro”, afirmou em comunicado.

Chohfi lembrou que a Arábia Saudita tem o objetivo de se tornar um país livre de carbono até 2060, por isso tem investido fortemente no desenvolvimento de novas energias.

A maior central de hidrogénio verde do mundo, que está a ser construída no Mar Vermelho, faz parte desse esforço.

“No Brasil, os investidores sauditas podem participar não apenas de projetos envolvendo energias renováveis, mas também de iniciativas ligadas a créditos de carbono para compensar emissões durante o processo de transição”, disse Chohfi.

Em relação ao petróleo e gás, Simões Moreira disse que o Brasil ainda tem um grande potencial não só na produção de energia, mas também na indústria petroquímica.

Além da energia, outros memorandos de entendimento foram assinados entre a Embraer, fabricante líder de aeronaves no Brasil, e o governo saudita, a Saudi Arabian Military Industries e a companhia aérea saudita Flynas.

A delegação brasileira também discutiu projetos de infraestrutura com seus homólogos sauditas. O ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, apresentou aos empresários oportunidades relativas aos portos brasileiros, que poderão ser parcialmente privatizados.

Lula tem buscado recursos para seu Programa de Aceleração do Crescimento, uma iniciativa abrangente de obras públicas que abrangerá diversos tipos de obras públicas nos próximos anos.

Medidas para melhorar o comércio bilateral também foram discutidas entre Lula e o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

Em 2022, o comércio entre Brasil e Arábia Saudita atingiu US$ 8,221 bilhões. O Brasil comprou principalmente hidrocarbonetos e fertilizantes (US$ 5,297 bilhões), enquanto o Reino comprou principalmente proteína halal (US$ 2,924 bilhões). Os dois líderes acreditam que o comércio poderá atingir 20 mil milhões de dólares até 2030.

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